LEALDADE CONDICIONADA ÀS CIRCUNSTÂNCIAS

Se existe algo que me fascina é vasculhar nas páginas da história da humanidade a memória de homens valentes e sensatos, que deliberadamente podemos tomar como exemplos dignos de serem seguidos.

Outro dia eu meditava sobre a história de Jacques DeMolay, último grande líder dos Cavaleiros Templários, que foi queimado vivo em Paris no ano de 1314 desta era, e que representou o fim da Ordem.

O poder presente nas mãos dos Templários deflagrou uma ameaça na visão de Felipe IV, o Belo, rei da França. Iniciou ele uma caçada aos membros da ordem e a consequente destruição da mesma. Felipe persuadiu e gerenciou as forças do Papa Clemente V para condenar os templários. DeMolay foi preso e torturado por sete anos. O Rei desejava extrair os nomes de outros líderes da ordem e a localização de seus tesouros e posses, e, mesmo com uma confissão forjada, Jacques não delatou seus companheiros. Manteve-se fiel a seus propósitos e juramentos. Em 1314, negou a confissão forçada, conservou sua lealdade a seus companheiros e foi condenado a fogueira. Nem diante da sua iminente morte ele mencionou os nomes de seus irmãos que certamente morreriam da mesma forma, enquanto o pretensioso rei fortalecia sua sede de poder.

Desde então a história de Jacques DeMolay se tornou um testemunho de lealdade e companheirismo; e exatamente nesta parte que eu gostaria de levar você, prezado leitor a uma meditação.

Houve um tempo em que a palavra de um homem era como um contrato assinado, impossível de ser quebrado. Ser fiel aos companheiros e irmãos era uma questão de honra. Infeliz o homem que perdesse a sua honra.

Se trouxermos esse pensamento aos dias de hoje, vemos que a história sofreu um giro de 360°. A palavra de uma pessoa hoje não vale mais que um grão de arroz. Pode ser quebrada ou simplesmente anulada que não causará dano algum. Vivemos em um mundo em que acreditar na palavra ou promessa de alguém é o nosso maior erro. Mas eu vou além...

Pior que alguém que não tem palavra é a pessoa que muda de lado, conforme o lado que está ganhando, está sempre com a opinião que está no poder. É uma pessoa sem convicções nem princípios. Importa é estar no poder! Uma pessoa dessa estirpe é um traidor em potencial, porque em um piscar de olhos  pode negar os valores até então defendidos, para assumir outros valores conforme a cadeia de poderes que está no comando neste momento. Não se importa em trair tudo aquilo que defendeu por anos, apenas para garantir seu lugar ao sol.

Jacques poderia sem pestanejar denunciar os seus companheiros, pois sabia que morreria da mesma forma, seu nome era poderoso de mais para continuar a viver, mas não o fez. Havia um código de honra a prezar, e esse código tinha preço de morte. Se havia alguém a ser leal, então que fosse até o túmulo, ou neste caso até a pira.

Se você algum dia disse ser fiel a alguém ou leal a algum princípio, então seja capaz de sustentar essa posição mesmo diante da morte, caso contrário você é uma pessoa sem honra alguma, não passa de uma folha ao vento que hora destas desaparecerá para sempre.

“Fiel a Deus ou ao Diabo, isso depende. Depende de quem está no comando hoje. Depende de quantos reais isso vai me fazer lucrar, depende de quantos lauréis vou receber. Tudo depende”.  A dependência é a situação mais esdrúxula que uma pessoa pode estar submetida. Ou você acredita em algo, com ressalvas a melhorar sua crença, ou não acredita. É sim ou não. Jamais meio termo. Diz o Santo Livro: “Mas, porque são apenas mornos, nem frios nem quentes, vou logo vomitá-los da minha boca” (Ap 3.16) e em Mateus 5.37 diz “Seja o seu “sim”, “sim”, e o seu “não”, “não”; o que passar disso vem do Maligno”.

Algo importante a ressaltar é: Se você conquistou com respeito, verdade, dedicação e seriedade o seu espaço, não será uma mudança de opinião que derrubará o nome que você construiu. Não será preciso você se adaptar radicalmente a uma nova situação, pois algumas circunstâncias tendem a se adaptarem a você, e os seus feitos falarão alto. Mas isso é apenas para homens honrados.

Conheço pessoas sem honra que já mudaram de lado várias vezes, sempre ao encontro do que mais lhe beneficia, não importando ter que puxar o tapete de outros que lhe estejam no caminho. Seu lema é “estar ao lado do que está com o poder a qualquer custo”. Fico assistindo de longe e me perguntando: se o comando mudar de novo e não lhe ficar favorável, vai trocar de novo? Óbvio que sim. Essa espécie de humano não tem valores suficientes para conquistar, apenas se apossa do ambiente e começa a dar ordens, acaba por fim fazendo “um bom trabalho” (um lambeta da melhor qualidade) e vai se levando. Como diz um dito popular gaúcho “vai se empurrando com a barriga”.

Faltam mais pessoas que estejam do lado da verdade, da sabedoria, da sensatez, da retidão, da honestidade e vários outros valores formadores de um caráter excelente. Essas pessoas não têm partido, estão sempre do lado certo, mesmo que isso lhe seja desconfortável. Algumas por questão de sobrevivência têm que se desdobrar entre um partido e outro, mas consegue permanecer sempre a favor da verdade e pela verdade.

Sim, confesso que em um mundo abundante de mentiras e falsidades, ser honesto e verdadeiro é um mérito e uma valentia. Mesmo assim, convido você meu leitor a receber este mérito.

E para você que está começando sua conquista agora, recomendo que tenha um ideal a defender, estabeleça e siga algum nobre propósito, busque e firme as suas convicções, e não seja uma pessoa levada pelos ideais dos outros, não seja guiado pelos sonhos de terceiros. Você constrói a sua própria história. Defenda a sua fé, e não deixe jamais alguém colocar dúvida no que você acredita, ou desanimar dos seus sonhos, dizendo que você não conseguirá. O ser humano é possuidor de um poder indescritível, um poder capaz de mudar a história, é preciso descobrir dentro de você qual o talento que te fará ser o melhor, naquilo que você nasceu para realizar.

“Não existe algo mais lindo que assistir uma pessoa descobrir os seus talentos e vocações, somando a um caráter nobre. Certamente cedo será uma pessoa bem sucedida”.

             Que Deus te abençoe.

Alan Chiamenti Machado

25 de dezembro de 2011

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